terça-feira, 11 de agosto de 2009

100 motivos para se orgulhar da ciência brasileira


Muito prazer. Queremos apresentar a você a elite da ciência brasileira: cem cientistas e instituições científicas fundamentais, do passado e do presente. Para comemorar a edição número 100 da SUPER — cem revistas dedicadas à aventura do conhecimento, desde a primeira, em outubro de 1987 —, decidimos homenagear esses brasileiros. São eles que carregam a lâmpada de Diógenes — a luz do conhecimento — com bom ou mau tempo. Você agora vai conhecê-los melhor. E se orgulhar deles.
Todo mundo sabe que não é fácil ser cientista no Brasil. Todo mundo sabe que falta dinheiro etc. Mas é incrível: os obstáculos estão aí para serem vencidos. Os cientistas brasileiros têm qualquer coisa de heróis. Além de talento e inteligência são homens de vontade de ferro.
Para listar o supertime que você vai ver nas próximas páginas, nós também precisamos de garra. Começamos consultando cientistas das mais diversas áreas. Eles nos mandaram listas dos melhores de sua disciplina. Confrontando as relações, consolidamos um conjunto de 160 nomes ilustres. Difícil, quase impossível, foi reduzir essa lista. Quando por fim chegamos aos cem, havíamos consultado 116 cientistas e mais bancos de dados, bibliotecas, jornais e revistas. Conversamos ou trocamos faxes com quase todos os escolhidos vivos, inclusive com o sociólogo que hoje é presidente da República e com o cardiologista que é ministro da Saúde. Uma trabalheira danada. Uma trabalheira em equipe: sete jornalistas e dois meses de pesquisa.
O resultado é esta seleção de cem homens, mulheres e instituições, distribuídos em treze disciplinas. Alguns desenvolvem trabalhos interdisciplinares mas figuram numa única disciplina apenas para efeito de simplificação.
Importante: esta não é nenhuma lista dos "cem mais", nem um ranking dos mais produtivos. É sobretudo uma homenagem aos cientistas brasileiros e a você, leitor, que nunca os viu reunidos. Você tem aqui mais do que uma lista: tem uma radiografia da ciência brasileira.
Uma radiografia, sim. Esta reportagem fez aflorar as opiniões dos gênios brasileiros sobre sua condição de pesquisadores. E revelou duas constantes. A primeira é a crítica à falta de apoio, de plano estratégico, de verbas e de investimento. A segunda, mais sutil, admite que a ciência nacional, à imagem da própria cultura brasileira, tem sido generosa em teorias e abstrações, porém é pouco prática. Seu desafio seria justamente avançar nas tecnologias aplicadas.
Acima das críticas, contudo, encontramos uma tremenda vontade de progredir. Com ou sem dinheiro. Os cientistas são como o país, que avança, apesar de tudo. Tem problemas, mas quer resolvê-los. E não pára de produzir.
A neurologista Nise da Silveira (AL, 1905) revolucionou o tratamento psiquiátrico de doentes mentais, recuperando suas expressões inconscientes por meio da pintura e da arte. Foi uma das primeiras a perceber que terapia ocupacional poderia virar método de tratamento. Em 1952, Nise fundou, no subúrbio de Engenho de Dentro, no Rio, o majestoso Museu das Imagens do Inconsciente, que hoje reúne 300 000 obras, todas realizadas por pacientes.
Além de bon vivant, Ivo Pitanguy (MG, 1926) é um gênio. Em qualquer canto do planeta onde exista faculdade de Medicina, suas técnicas de cirurgia plástica para mamas e abdome são obrigatórias. Seu livro Aesthetic Plastic Surgery of Head and Body (1981), tornou-se uma bíblia. Pitanguy criou o curso de pós-graduação em Cirurgia Plástica da PUC do Rio e já formou mais de 500 especialistas de várias nacionalidades.
Em 1968, Euryclides de Jesus Zerbini (SP, 1912 - 1993) tornou-se o sexto cardiologista do mundo a realizar um transplante de coração. Nos anos 40, nos Estados Unidos, aprendeu técnicas de cirurgia cardíaca quando ninguém operava o músculo vital. Em 1947, montou o primeiro grupo de cardiologistas do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Em 1975, inaugurou o Instituto do Coração.
O Instituto do Coracão, em São Paulo, é a vanguarda da cardiologia brasileira. Foi o primeiro a fazer implante de ventrículo esquerdo e já fez 10 000 transplantes de rins. Atualmente, desenvolve 98 projetos de pesquisa. O diretor, Fulvio Pileggi, vê progresso evidente na ciência brasileira: "O número de doutores formados pela pós-graduação é crescente e a produção brasileira em revistas internacionais dobrou em dez anos".
O professor Hilton Rocha (MG, 1911) criou em Belo Horizonte o maior centro oftalmológico da América Latina. O Instituto Hilton Rocha realiza 1 500 cirurgias oculares por mês e foi um dos primeiros a fazer transplante de córnea. Criou uma técnica inovadora para aproveitar partes de uma mesma córnea em dois pacientes. Para o diretor Paulo Gustavo Galvão, a pesquisa oftalmológica "avança para transplantar córneas de animais em pessoas".
O Hospital das Clínicas pertence à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e é o maior complexo hospitalar da América Latina. É uma usina de cientistas. Segundo o diretor-clínico, Irineu Tadeu Afonso, o prestígio da Faculdade depende do HC: "Quando não há vínculo como esse, não há também pesquisa médica nem produção de conhecimento, e a escola só pode vender conhecimentos tirados dos livros".
"Agora, que estou no Ministério da Saúde, me sobra pouco tempo para pesquisa", disse à SUPER o ministro Adib Jatene (AC, 1929), autor da primeira cirurgia de ponte de safena do Brasil e criador de técnica mundialmente consagrada para corrigir artérias transpostas em corações de bebês. "A ciência precisa muito de suporte técnico e financeiro", diz o ministro. "A USP gasta todo seu dinheiro em salário. Mas há perspectivas de melhora. A estabilização da economia e o desenvolvimento resolvem isso."
Há dois anos, Sílvia Brandalise (SP, 1944) descobriu um novo tipo de leucemia — a síndrome de Brandalise. Desde 1978, ela dirige o Centro Infantil de Investigação Hematológica Dr. Domingos Boldrini, em Campinas, que montou praticamente sozinha e transformou em instituição de referência mundial no tratamento do câncer infantil. "Hoje, tratamos de 5 000 crianças", conta. Ela acredita que algum dia o Brasil melhorará, embora "por ora, as evidências apontem no sentido contrário".
A cada dez minutos, os tapetes brancos da entrada do Hospital Sarah, em Brasília, são trocados, ritualmente, para sinalizar sua higiene impecável. A instituição é um centro de excelência em doenças motoras — e nada cobra por isso. Tem os melhores laboratórios de análise do movimento e de genética de doenças ósseas do país. Mais: constrói seus próprios equipamentos.Carlos Chagas (MG, 1879 - MG, 1934) descobriu em 1907 as causas, os sintomas e o meio de propagação do mal de Chagas, transmitido pelo mosquito barbeiro, que tem em seu intestino o protazoário Trypanosoma cruzi ("cruzi" em homenagem ao mestre Oswaldo Cruz). Viajou por territórios remotos do Brasil combatendo focos de epidemias e doenças. Provou que o sanitarismo básico melhoraria a saúde de todos.
Em 1904, Oswaldo Cruz (SP, 1872 - RJ, 1917) dirigiu o saneamento do Rio de Janeiro e enfrentou oposição intransigente contra a vacinação obrigatória antivaríola. A imprensa o chamava de "Oswaldo, o Rato" e "General Mata-Mosquitos". O povo não entendeu e se rebelou na famosa Revolta da Vacina. Mas a História lhe deu razão. Transformou o Instituto Soroterápico Federal (mais tarde, Instituto Oswaldo Cruz) na primeira instituição de pesquisa científica da saúde do país . Saneou a Baixada Santista. Formou a primeira geração de sanitaristas brasileiros.
Fundado em 1936 pelo filho de Carlos Chagas, o Instituto Evandro Chagas, em Belém, é uma referência mundial em doenças tropicais. Associado à universidades estrangeiras, realiza pesquisas sobre leishmaniose, hepatite, gripe, papilovírus e herpes. É um centro de excelência na Amazônia. "Acho que a ciência no Brasil só não está pior" — disse o diretor Jorge Fernando Travassos da Rosa à SUPER — "porque existe um grupo de cientistas abnegados, com objetivos claros, que, mesmo com poucos recursos, continuam trabalhando. Muitos já saíram do Brasil, mas alguns ficam, teimosamente".
Fundado em 1900, sob a direção de Oswaldo Cruz, o Instituto Soroterápico Federal mudou-se, em 1903, para um prédio novo, em estilo mourisco no subúrbio de Manguinhos, no Rio. Cinco anos depois virou Instituto Oswaldo Cruz.. É um dos maiores centros de investigação de doenças tropicais e biologia molecular do mundo. Transformado em Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em 1970, tem 1 693 pesquisadores e é o maior produtor brasileiro de vacinas contra febre amarela. Foi o primeiro a isolar o vírus HIV no Brasil. Para o diretor, Dr. Carlos Morel, o Brasil tem que investir em ciência: "ao contrário dos anos trinta, quando o aço e o petróleo eram estratégicos, o que interessa hoje é o conhecimento científico e tecnológico".
Construído na antiga Fazenda Butantan, em 1901, o Instituto Serumtherápico assumiu o nome do lugar em 1925. Hoje, o Instituto Butantan é o maior fabricante mundial de soro e o maior produtor de vacinas do Brasil: são 24,2 milhões de doses contra tétano, difteria, tuberculose, cólera e gripe. Tem 150 pesquisadores e faz pesquisa de base e aplicada, desde a vacina contra Hepatite B a analgésicos extraídos do veneno da cascavel. Sua coleção de animais peçonhentos é atração turística em São Paulo. O diretor Isaías Raw disse à SUPER que "uma das pesquisas mais importantes atualmente é uma nova vacina contra a coqueluche".
Depois de estudar na Europa e dirigir um hospital no Hawai, Adolfo Lutz (RJ, 1855-1940) assumiu, em 1893, a direção do Instituto Bacteriológico de São Paulo — que, em 1940, viraria Instituto Adolfo Lutz. Especialista em lepra, realizou trabalho pioneiro sobre os mecanismos de ação do cólera, da febre amarela, do tifo e da malária. Pesquisou entomologia médica e zoologia no Instituto Oswaldo Cruz, no Rio, e viajou pelo país todo investigando condições de saúde. Deixou extensa obra sobre doenças epidêmicas e endêmicas brasileiras.Vital Brazil (MG, 1865-1950) trabalhou no Instituto Bacteriológico de São Paulo, em 1891, ao lado de Adolfo Lutz. Em 1895, mudou-se para Botucatu, onde atendia muitos camponeses mordidos por cobras. Num laboratório improvisado descobriu que o soro antiofídico deveria ser específico: para cada espécie de cobra, um tipo de soro deve ser usado. Foi o primeiro diretor do Instituto Butantan e, em 1919, fundou o Instituto Vital Brazil, em Niterói, para produzir vacinas.Bóris Vargaftig (Buenos Aires, 1937, naturalizado) comanda uma equipe do Instituto Pasteur, em Paris, que investiga alergias respiratórias. Provou, em 1989, que a molécula PAF (sigla em inglês para "Fator Ativador de Plaqueta") desencadeia crises asmáticas. Se descobrir uma droga "antiPaf", a asma poderá ser controlada. Vargaftig disse à SUPER que, "no exterior, a ciência brasileira é vista como promissora. Em geral, ela é constituída por cientistas bem formados, mas carentes de uma política científica que dê apoio material coerente e constante".
Prêmio Javits de Investigação Científica do Congresso dos Estados Unidos em 1991, Édson Xavier de Albuquerque (PE, 1936) está na ponta das pesquisas mundiais sobre o mal de Alzheimer. Chefe de um sofisticado laboratório da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, promove pesquisas interdiciplinares de genética, oncologia, neurobiologia, farmacobiologia molecular, metabolismo hepático e toxicologia. Seu objetivo: deter o estrago da doença no cérebro.
Uma das maiores autoridades mundiais em malária, Luiz Hildebrando (SP, 1930) é chefe da Unidade de Parasitologia Experimental do Instituto Pasteur, em Paris. Há dez anos dedica-se à descoberta da vacina antimalária com a ajuda da Biologia Molecular e da Engenharia Genética. É bom que ela venha logo. Está havendo uma escala de incidência de malária no Brasil: são 120 000 novos casos por ano, a maior parte na Amazônia. Hildebrando é otimista: "Até o final do século teremos uma vacina eficaz contra a doença".
A vacina contra a malária também poderá surgir das pesquisas do casal Vitor (SP, 1928) e Ruth Nussenzveig (Áustria, 1828, naturalizada), na Universidade de Nova York. A dupla está nos Estados Unidos desde 1963. Um protótipo, feito com proteínas dos parasitas injetados no sangue pela mordida do mosquito infectado, já foi testado, com sucesso parcial. Outro protótipo começará a ser testada este ano. "A malária é a doença tropical que infecta mais gente no mundo: só crianças, são 1 milhão por ano", disseram à SUPER.
Estudando magnetismo, Sérgio Mascarenhas (1928, RJ) criou um novo método de datação arqueológica. Seu conceito de bioeletreto mostrou que as grandes moléculas orgânicas, como o DNA, têm pólos elétricos opostos nas extremidades. Fundador do Instituto de Física e Química da Universidade de São Carlos, acha que é preciso estimular novos talentos. "Devemos privilegiar os aspectos sociais da ciência, atraindo os jovens e dando-lhes condições de trabalhar", disse à SUPER.
O físico José Goldemberg (1928, RS) criou métodos para investigar as reações entre a luz e os núcleos atômicos e para calcular a forma desses núcleos. É um dos maiores especialistas brasileiros em energia, desde a produção até o consumo e as fontes alternativas. Foi reitor da USP e Ministro da Educação, em 1992, no governo Collor. Considera necessário investir mais em ciência. "Embora há cinco anos se fale em dobrar as verbas, elas continuam no patamar de 0,7% do PIB", disse à SUPER.Sérgio Machado Resende (1940, RJ) estudou as propriedades magnéticas de substâncias, demonstrando que o valor do campo magnético pode variar arbitrariamente, caracterizando um estado de caos. Em 1972 criou o primeiro grupo de Física na Universidade Federal de Pernambuco. Na sua opinião, a ciência brasileira está pronta para dar um grande salto: "Já está produzindo conhecimento em quantidade suficiente para empurrar o desenvolvimento tecnológico do país".
Não é pequena a contribuição de Oscar Sala (1922, Itália). Mas de tudo que fez, considera a ajuda à formação de novos pesquisadores o mais importante. "Acho que formei pelo menos 100, em meus cinqüenta anos de trabalho". Suas pesquisas com raios cósmicos foram decisivas para análises posteriores das partículas subatômicas. Instalou no Instituto de Física da USP o Péletron, um acelerador de partículas que quebra os núcleos dos átomos para que se possa descobrir sua composição.José Leite Lopes (1918, PE) desenvolveu idéias pioneiras sobre as forças que atuam nos núcleos atômicos. Em 1956, conseguiu estimar a massa das partículas que carregam tais forças, identificadas só nos anos 80. Professor da UFRJ e da Universidade Louis Pasteur, em Estrasburgo, França, acha que "existe um certo elitismo nos altos escalões do governo ligados à formulação da política científica. Eles deveriam voltar pelo menos um dos olhos para o ensino básico, que é ruim".
Em 1947, Cesare Lattes (1924, PR) participou da experiência que provou a existência dos mésons-pi, partículas do núcleo dos átomos, que deu o Prêmio Nobel da Física ao seu colega Cecil Powell. Em 1948, na Califórnia, produziu artificialmente mésons-pesados, desenvolvendo a física de partículas elementares. Em 1951, ajudou a criar um laboratório de raios cósmicos no pico de Chacaltaya, na Bolívia. Estimulou as vocações de gerações de físicos brasileiros. Aposentado pela Unicamp, vive em Campinas.
Manifestações da chamada força fraca, descoberta pelo físico italiano Enrico Fermi, eram observadas em diversos tipos de desintegração de partículas subatômicas. Junto com o americano John Wheeler, Jaime Tiomno (1920, RJ) provou que, em todos os casos, se tratava da interação fraca, uma das quatro forças fundamentais do Universo. Tiomno foi professor do Instituto de Física da USP e ajudou a reformar o Instituto de Física da Universidade de Brasília.Moyses Nussenzveig (1933, SP) explicou matematicamente o espalhamento de luz que constitui o arco-íris e a decomposição de cores próxima à sombra dos objetos que forma a auréola. Trabalhou para a Nasa, a agência espacial americana. Desenvolveu pinças óticas que utilizam luz de laser para manipular in vivo microestruturas biológicas. "É preciso dar mais atenção à Física experimental, mais atrasada do que a teórica, pois os equipamentos custam caro", disse à SUPERJacques Danon (SP,1924 - RJ, 1989) ajudou Irene Joliot-Curie a aprofundar as descobertas sobre radioatividade, em 1947, no Centro Nacional da Pesquisa Científica de Paris. Foi um dos especialistas que decifrou o Efeito Mössbauer, um tipo de emissão de luz pelo núcleo atômico de um metal. Publicou 170 trabalhos sobre radioquímica e eletroquímica. Dirigiu o Departamento de Química Nuclear do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas.
Em 1938, quando era estagiário da Universidade de Cambridge, Marcelo Damy (1914, SP) aperfeiçoou o Contador Geiger, aparelho medidor de radiação, aumentando a velocidade do seu funcionamento 1 000 vezes, da escala de milissegundo para a de microssegundo. Em 1949, foi responsável pela construção do primeiro acelerador de partículas brasileiro, o Bétatron, no Instituto de Energia Atômica da USP, que ajudou a fundar. Foi presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear. Vive no Rio de Janeiro.Newton da Costa (PR, 1929) inventou a lógica paraconsistente, cuja característica é admitir informações contraditórias. Programas de computador, como os que fazem diagnóstico de doenças, usam essa lógica capaz de oferecer uma resposta correta mesmo a partir de informações contraditórias. Para o ex-professor do Instituto de Matemática e Estatística da USP, em algumas áreas o Brasil faz ciência de primeira linha. "Mas é preciso investir mais na educação, pois o nível cultural da população é baixo".
Por seu empenho em modernizar a Matemática, disseminando os conceitos avançados da sua época, Lélio Gama (RJ, 1892 - 1981) é reconhecido como um pioneiro. Realizou pesquisas avançadas sobre geometria e gravimetria. Fez o primeiro mapa do valor da força gravitacional das regiões brasileiras. Estudou o movimento do pólos e as flutuações do magnetismo terrestre. Foi diretor do Observatório Nacional e o primeiro diretor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA).
Ao estudar equações que descrevem superfícies geométricas, Maurício Peixoto (PE, 1921), também do IMPA, demonstrou uma propriedade importante delas: a estabilidade estrutural. É possível mudar uma equação sem que o resultado final se altere. Peixoto é otimista quanto à política científica do Brasil: "Não vejo necessidade de mudá-la, pois está funcionando esplendidamente. Aliás, todo o país vai bem", disse à SUPER.Jacob Pallis (MG, 1940), atual diretor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) do Rio de Janeiro, mostrou que as equações que descrevem sistemas dinâmicos como órbitas de planetas, são estáveis: se um planeta sai do rumo, tende a voltar a ele. O mesmo pode-se dizer das equações: se mudarmos uma de suas variáveis, mantêm os mesmos resultados. Segundo Pallis, "o Brasil tem tudo para dar um salto à frente, só não pode faltar apoio do governo".
Professor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e do IMPA, Leopoldo Nachbin (PE, 1922 - RJ, 1993) investigou métodos para modificar funções matemáticas, criando uma estrutura teórica que viabiliza cálculos numéricos complicados. Nela, uma função complexa é resolvida pela aproximação gradativa do resultado com o emprego de polinômios semelhantes à função, bem mais simples.Mário Schenberg (PE, 1916 - SP, 1990) estudou com Fermi e Pauli, na Europa. Descobriu o mecanismo de explosão das supernovas, mostrando, junto com o físico George Gamow, que elas jogavam energia fora na forma de neutrinos. Batizaram o efeito de "Urca", pela facilidade com que se perdia dinheiro no então Cassino da Urca, no Rio. Também estudou a evolução das estrelas e criou o critério Schenberg-Chandrasekhar para avaliar suas idades. Foi crítico de arte plásticas e deputado federal eleito em 1945.José Antonio de Oliveira Pacheco (SP, 1942), diretor do Observatório de Nice, na França, foi um dos primeiros a apontar que os raios cósmicos não têm origem extragaláctica, mas vêm da própria Via Láctea. Pacheco disse à SUPER que "as áreas em que o Brasil tem maior reputação são as biológicas. Mas a Física, hoje, começa a lidar com demandas brasileiras de aplicações práticas, como a óptica, as cerâmicas e o magnetismo. Com isso, vem obtendo destaque".Abrão de Moraes (SP, 1915 - SP, 1970) foi um dos criadores da Astronomia Brasileira. Professor de mecânica celeste, formou a primeira geração de astrônomos do país, dirigiu e dinamizou o Instituto Astronômico e Geofísico da USP. Em 1957, a partir da trajetória de satélites artificiais e das revelações russas sobre a viagem do satélite Sputnik, desenvolveu equações matemáticas para calcular a forma exata da Terra.
Em 1989, no Observatório Nacional do Rio, Luis Nicolacci (1950, RJ) chefiou uma equipe internacional que realizou o mais completo mapeamento do céu já feito. Localizaram 5 000 galáxias, até uma distância de 400 milhões de anos-luz. Suas pesquisas indicaram que há imensos vazios no Universo e locais onde as galáxias se agrupam. Na sua opinião, "a vida do cientista no Brasil é muito mais difícil do que deveria ser. Não há consciência do valor da ciência para a sociedade".João Steiner (1950, SC) ficou famoso, em 1980, ao consertar, em Nova Iorque, o telescópio orbital Einstein, da Nasa. Identificou boa parte dos quasares conhecidos na década de 80 e formulou a teoria de que mesmo as galáxias comuns têm um buraco negro no centro. Vice-diretor do Instituto Astronômico e Geofísico da USP, acha que o investimento em ciência no Brasil não precisa ser maior, "mas precisa ser mais regular". Além disso, "temos que dar atenção à parte experimental, pois nossa tradicão é voltada para o lado teórico".Giuseppe Cilento (Itália, 1923, naturalizado - SP, 1994), professor do Instituto de Química da USP e da Unicamp, teve reconhecimento internacional depois de produzir emissão de luz pelo excitamento químico de elétrons do sistema biológico. Sua descoberta mostrou que as células podem realizar processo fotoquímico sem aplicação de luz externa, a fotobiologia sem luz. Com essa descoberta pode-se, por exemplo, diferenciar o tipo de leucemia mielóide, antecipando seu tratamento específico.
Criar modelos que imitam células vivas para compreender de modo prático seu funcionamento é a empreitada do bioquímico Hernan Chaimovich (Chile, 1939, naturalizado), especialista em mecanismos de reação química dos sistemas biológicos. Chefe do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da USP (um dos mais produtivos do Brasil), acha que "no Brasíl o apoio à ciência é imprevisível. Falta uma visão estratégica de longo prazo. Não é uma questão de muita ou pouca grana, mas de levar a sério uma política científica".
veja a continuacao no site>>

Nenhum comentário:

Postar um comentário